domingo, 23 de maio de 2010

Sobre os cinco sentidos - a visão (ou a falta dela)

Foi na véspera do aniversário dos meus 20 anos que fui buscar o meu primeiro par de óculos. Escolhi uma armação de massa de cor preta. Já levava na lente esquerda 2,5 dioptrias e na lenta direita 1,5 dioptrias. Assim como estreia já ía bem apetrechada!
Nem um ano depois, ouço da voz da especialista da optica um "Não tenho a certeza, mas parece-me que tem um problema ócular que eu aqui não posso detectar com toda a clareza, aconselho a ida a um especialista". Lá fui.
Da boca do Oftalmologista1 saiu o pior que podia ter ouvido, uma doença genética, que só se revela a partir da adolescência e que pode levar à cegueira. Ele disse-me basicamente que o mais provavel era dali a 20 anos estar cega. Posso ou não estar cega, porque não é previsivel e cada um tem o seu progresso da doença. Saí de lá de rastos. No carro chorei até desidratar. Em casa pesquisei tudo o que havia a pesquisar na internet.
Um ano após a noticia consultei um outro oftalmologista, fui convicta de que ele me iria dizer que afinal não tinha nada daquilo. Mas ele apenas voltou a confirmar. Nesse dia não me consegui conter e chorei ali mesmo em frente ao Oftalmologista. Afinal não há nada que possa fazer, não posso prevenir, não posso nada. É esperar pelo futuro, no dia em que ficar cega (se ficar cega) a resolução é o transplante de córnea. Até lá não há nada a fazer.
A minha doença genética chama-se queractocone, não me vai matar, mas transformou a minha vida. Graças a ela a minha auto-estima escorregou-me toda pelas mãos. Não penso nisto todos os dias. Mas vivo com a falta de visão todos os dias. Faço piadas e rio-me de mim mesma. Mas há dias em que bate cá fundo. Nesses dias mentalizo-me com a frase feita e tão tipica do portuga "podia ser pior", nesses dias gostava de ser uma daquelas pessoas movidas pela fé.
Não me vai tirar a vida, mas mata-me a auto-estima, dia após dia.

1 comentário:

  1. tenho uma colega de curso que tem o mesmo que tu, mas ela ficou cega logo na infância. quando nasceu os médicos disseram logo aos pais que, na infância/entrada na adolescência ela iria ficar cega com muita probabilidade de certeza. ela aceitou bem, tem uma vida normal, como tds nós, anda na faculdade, faz os trabalhos, tem boas notas, tem amigos.... admiro-a por isso. se fosse eu, também ficava com a auto-estima destruída! mas pensa que o teu problema tem resolução, o dela não tem; tens 20 anos para te mentalizar não que vais ficar cega para sempre, mas sim para fazeres o tal transplante. vê o copo sempre meio cheio ;)

    Beijinhos

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